O Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão, foi no passado dia 4 de Junho. A Associação de Apoio à Vítima (APAV) aproveitou para informar e aconselhar sobre como alguns sinais poderão facilitar a detecção de uma situação de violência.
SINAIS DE MAUS TRATOS FÍSICOS
• Lesões físicas incompatíveis com a explicação ou em locais pouco
comuns
• Marcas evidentes de maus tratos
• Versões sucessivas e inconsistentes do mesmo
"acidente"
• História anteriores semelhantes
• Fraturas ou lesões em diferentes graus de cicatrização
• Sequelas
• Demora na procura de cuidados médicos
• Evitamento do contacto corporal
SINAIS DE NEGLIGÊNCIA FÍSICA
• Falta de adesão médica
• Aparência pouco cuidada e higiene deficiente/ausente
• Fome
• Sinais evidentes de malnutrição
• Ausência de hábitos diários
• Absentismo e abandono escolar
• Evitamento do contacto corporal
SINAIS DE VIOLÊNCIA SEXUAL
• Problemas na saúde sexual e reprodutiva
• Expressão de afeto de forma sexual
• Linguagem sexual precoce
• Comportamentos auto-eróticos extremos
• Comportamento sexual inadequado para a idade
• Envolvimento na prostituição
• Comportamento sexual gerador de mal-estar
• Preocupação constante acerca do tema da sexualidade
SINAIS DE BULLYING
• Lesões físicas, danos nos objetos pessoais e no material
escolar que não é capaz de explicar
• Perda de dinheiro que não é capaz de explicar
• Sintomas de mal-estar físico associados à frequência escolar
• Receio, desconforto e recusa em frequentar a escola
• Fugas da escola
• Mau rendimento escolar crescente
• Evitamento de conversas em torno do tema "escola"
• Afastamento em relação aos pais e amigos
SINAIS DE VIOLÊNCIA NO NAMORO
• Lesões físicas para as quais não apresenta explicação
plausível
• Medo claro na presença do (a) parceiro (a)
• Afastamento em relação aos amigos
• Recusa ou desinteresse por atividades anteriormente apreciadas
• Pioria no rendimento escolar
• Absentismo escolar
• Fugas da escola ou de casa
Se conhece alguém ou se vir alguém com vários destes sinais,
procure ajuda. Se suspeitar de casos de violência, não hesite e procure ajuda.
Poderá contactar o Núcleo de Apoio a Crianças e Jovens em Risco do Serviço de Saúde da sua área de residência (Rede Nacional de Núcleos). Poderá também
contactar qualquer destes seguintes serviços:
APSI(Associação para a
Promoção da Segurança Infantil) 218 870 101
APAV (Associação Portuguesa
de Apoio à Vítima) 707 200 077
CIAV (Centro de Informação
Antivenenos, INEM) 808 250 143
CNASTI(Confederação Nacional
de Ação sobre o Trabalho Infantil) 800 202 076
CNPCJR (Comissão Nacional de
Proteção de Crianças e Jovens em Risco) 213 114 900
Saúde 24 (Ministério da Saúde,
Direção-Geral da Saúde) 808 24 24 24
Sexualidadeem Linha
(Instituto Português da Juventude e Associação para o Planeamento da Família)
808 222 003
Sol (Associação de Apoio a
Crianças Infetadas pelo Vírus da SIDA e suas Famílias) 213 972 632
SOS –Criança
(Instituto de Apoio à Criança) 800 20 26 51 - 217 931 617
SOS –
Grávida
(Ajuda de Mãe) 808 20 11 39
Se foi vítima ou testemunhou algum crime, é muito importante que
o denuncie às autoridades. Se o fizer, a probabilidade de a pessoa que o
cometeu ser punida e impedida de fazer o mesmo a outras pessoas é maior.
Desta vez um ataque terrorista teve como alvo um público muito
jovem. Devem os pais falar sobre isso com os filhos? E como? Apresentamos a
opinião de um pedopsiquiatra e alguns psicólogos.
Na passada terça-feira
à noite, as 21 mil pessoas que assistiam ao concerto da cantora pop
norte-americana Ariana Grande no Manchester Arena, em Inglaterra, foram
surpreendidas, no final do espetáculo, por uma forte explosão que vitimou 22
pessoas e deixou outras 59 feridas. Mais um atentado, já reivindicado pelo chamado
Estado Islâmico, que se soma a muitos outros nos últimos meses mas este com uma
particularidade que o distingue dos demais: desta vez o alvo foram sobretudo
crianças (e os pais que as acompanhavam).
Por isso, e
pelo facto de o atentado ter ocorrido no final de um concerto de um dos ídolos
pop das crianças e jovens, faz com que, provavelmente, as crianças e
adolescentes se sintam mais identificadas e estejam mais sensíveis a estas
notícias. É também natural que as dúvidas e perguntas em torno deste atentado e
vindas desta faixa etária surjam com mais expressão.
A pensar
nisso, no concerto desta cantora que está agendado para o dia 11 de junho no
MEO Arena, nos receios dos pais e nas eventuais perguntas que possam surgir em
casa, apresentamos a opinião de alguns especialistas para ajudar a encontrar respostas
para algumas das questões que possam estar a surgir neste momento.
1. Deve-se falar e explicar o terrorismo às crianças e
pré-adolescentes? Sim. Esconder
informação não deve ser opção.
“Vindo a
propósito, os pais podem falar do terrorismo, sem alarmismo”, defende Pedro
Pires, pedopsiquiatra do Hospital Garcia de Orta, em Almada. Uma opinião subscrita
pela psicóloga clínica Filipa Silva: “Neste momento, a questão da violência e
do terrorismo estão na ordem do dia e devem ser discutidas. Não é possível
abafar a informação e não parece que esconder informação seja a melhor
abordagem”.
2. Como deve ser feita a abordagem? Como se deve explicar o
terrorismo? “Há pessoas
boas e más”.
OK, deve-se
falar sobre estes atentados e sobre o terrorismo às crianças e
pré-adolescentes. Mas como? Inês Marques, psicóloga clínica, coordenadora da
equipa infanto-juvenil da Oficina da Psicologia, aconselha a que os pais evitem
vocabulário difícil quando estão a falar para crianças em idade de pré-escolar
ou a frequentar o ensino primário. “O ideal é falar de pessoas boas e más,
sempre na lógica de que as pessoas não nascem más mas que há algo na história
de vida dessas pessoas que as levou para esse extremo”. E questionados sobre as
motivações dessas pessoas más, os pais podem “assumir que é muito difícil
perceber o que está por detrás de tudo isto, que eles próprios não entendem.
Ser genuíno é muito importante”.
Também Filipa
Silva, psicóloga clínica e formadora, começa por dizer que é preciso “adaptar o
discurso”. “Até aos seis anos devemos explicar, contrariamente a alguns livros
de histórias encantadas, que nem toda a gente é boa e que nem todos os fins de
história são felizes. E isso não tem mal nenhum”, assegura a psicóloga,
acrescentando que “dos seis aos 10 anos, ainda numa fase da infância, podemos
começar a usar a palavra ataque e explorar o que é isto do ataque. Da pessoa
que não está bem e que planeia fazer mal aos outros”. Isso, remata a Filipa
Silva, “sem nunca fazer associações a etnias, nem religiões, nem
nacionalidades.” A partir dos 11 anos, “aí já podemos elaborar a ideia de
terrorismo porque já vão perceber os conceitos”.
Um dos
conceitos que as crianças devem aprender desde cedo é o da maldade, e também
têm de perceber que há limites e que todos os atos têm consequências nos
outros, sublinha a docente da Universidade do Porto, Isabel Abreu-Lima. “Tem de
se explicar que existe maldade, que há pessoas, de facto, más e que causam
sofrimento nos outros, que há pais que ficaram tristes e meninos que morreram,
mas que também há muitas pessoas boas e que isso é o mais frequente.” Ou seja,
até aos seis ou sete anos de idade o melhor mesmo, destaca a psicóloga, é dar
uma “explicação simples e linear de que há pessoas más” pois a criança “não vai
entender o que é o terrorismo”.
Abordar o
assunto pela tónica de que “a maldade existe e que o mundo também é feito de
pessoas más” é a melhor solução também na opinião do pedopsiquiatra Pedro
Pires. Quanto a uma explicação mais elaborada, essa só deve chegar mais tarde.
“A partir dos 10 anos a explicação pode ir até onde o pai ou a mãe sabe que vai
a maturidade do filho.”
Para Patrícia
Câmara, mais do que dizer que são más pessoas, pode-se dizer que são “pessoas
que esqueceram que são pessoas que não aguentam que os outros sejam felizes”.
3. Explicar só depois das crianças perguntarem ou explicar mesmo
sem haver perguntas? Procurar
perceber o que a criança quer saber. “Menos é mais”.
O
pedopsiquiatra acha que a explicação só deve chegar caso a criança pergunte. Já
a psicóloga clínica Filipa Silva considera que no caso das crianças até aos
seis anos “devemos observar e ver se têm algum tipo de alteração de
comportamentos ou se abordam o assunto para não introduzirmos conteúdos
precocemente sem necessidade”.
Para Inês
Marques, da Oficina da Psicologia, “um bom princípio é, ainda antes de responder
às questões, perguntar à criança ou pré-adolescente o que já sabe, o que já
ouviu falar e o que gostava de saber mais”. Desta forma, acrescenta, a mãe ou o
pai poderão “adequar o conteúdo e a quantidade de informação, assim como a
linguagem”.
Já Patrícia
Câmara responde com cautela, afirmando que “conhecendo os nossos filhos e se
sabemos que ficam mais impressionados com o tema devemos falar, mesmo que eles
se calem. Devemos gerir o assunto de acordo com o tipo de criança que temos e a
idade, mas sobretudo tentando não minimizar mas, por outro lado, não tornando o
assunto demasiado próximo”.
4. Como evitar que as crianças fiquem com medo? Dizendo que há
mais pessoas boas do que más.
Sem esconder
os próprios receios — “porque o medo é uma emoção que surge para nos proteger
mas que muitas vezes é ativado em situações não reais” –, os pais devem
“passar, na medida do possível, confiança e segurança aos filhos”, sublinha a
psicóloga Inês Marques, e, para tal, devem insistir na ideia de que “a maioria
das pessoas é boa e não usa violência e que este grupo de pessoas más é uma
minoria e que estes atentados são circunscritos”.
Também a
psicóloga Filipa Silva sublinha a importância de os adultos se acalmarem antes
de falar com os filhos. “Importa primeiro regular as nossas próprias emoções e
então mais calmos podemos falar com as crianças. Se estamos a tentar acalmar as
crianças e não estivermos tranquilos elas vão sentir isso”, começa por dizer
Filipa Silva, para logo acrescentar que “é preciso dizer que há mais pessoas
boas do que más”. Além disso, “vale a pena muitas vezes pegar no argumento de
que estes atentados são distantes e até se pode mostrar no mapa. Se a distância
não puder ser usada como argumento de segurança, podemos pôr o foco nas figuras
policiais e dizer que o senhor mau já foi apanhado”. Questionados sobre a
possibilidade de voltar a acontecer uma situação parecida, os pais devem dizer
a verdade: “pode acontecer, mas é pouco provável”.
Desde logo “os
pais têm de estar calmos e não passar o nervosismo porque a criança fica mais
aflita com a reação dos pais do que com o acontecimento em si”, frisa o
pedopsiquiatra Pedro Pires, que insiste na ideia de que não se deve gerar alarmismo.
“Não podemos passar a ideia de um mundo perigoso porque isso pode criar na
criança um medo excessivo e generalizado. Os pais devem dizer que há de facto
perigos, mas que, de um modo geral, o mundo não é perigoso.” E na mesma onda,
Isabel Abreu-Lima sublinha a importância de não passar a ideia de que “o mundo
e a vida são negativos e que não há nada a fazer contra estes atentados”. “A
mensagem deve ser sempre de esperança.”
“É importante
passar a mensagem às crianças que, aconteça o que acontecer, há sempre alguém e
que mesmo que estejam sozinhas vai sempre haver alguém que vai ajudar, uma mão
que vai aparecer. E que essas mãos, às vezes, vêm de dentro de nós, da força
interna das coisas boas que vivemos”, aconselha a psicóloga Patrícia Câmara.
5. Qual o controlo em relação às imagens do atentado? Pais devem
controlar o acesso às imagens do atentado.
Na opinião de
Inês Marques, os pais devem “tentar que as crianças não tenham demasiada
exposição às imagens e vídeos porque as crianças podem não ter maturidade
suficiente para gerir essas imagens violentas”. Também Filipa Silva alerta que
“é preciso ter cuidado com o tipo de imagem a que as crianças têm acesso. A
criança pode ver uma foto, não tem de ver 10”.
Também o
pedopsiquiatra do Garcia de Orta não tem dúvidas que “a criança deve ser
protegida dessas imagens” que vão sendo divulgadas dos momentos que sucederam à
explosão da bomba artesanal. “Não é expondo a realidade crua que faz com que as
crianças tenham noção da realidade.”
“A gestão das
imagens deve vir acompanhada da gestão de tudo o resto. A exposição às imagens
oferece um nível de crueldade às crianças que não há necessidade”, defende a
psicóloga Patrícia Câmara.
6. Devo deixar a minha filha ou o meu filho ir ao concerto da
Ariana Grande em Lisboa? Não há
decisões certas, nem erradas.
Para o
pedopsiquiatra Pedro este atentado não deve fazer os pais mudarem de ideias
“porque o atentado não teve a ver com a Ariana Grande. O que se passou foi a
utilização de um acontecimento”, embora “tenham o direito de ter receio e não
querer que os filhos vão. E aí devem ser francos”. O médico deixa contudo claro
que “reforçar a segurança só reforça a insegurança. O ideal é agir de forma
natural”.
Também Filipa
Silva sublinha que “os pais têm total legitimidade de ficar preocupados e que
não há escolhas certas nem erradas” e nesse sentido podem dizer que “neste
momento, face à proximidade deste atentado, não se sentem à vontade para ir ao
concerto. É como se fosse uma ferida que ainda está a sarar”. Porém,
acrescenta, “há um princípio importante: quando começamos a fortalecer o medo e
contornar questões eventualmente perigosas, começamos a encher um balão e se
começamos a contornar tudo o que possa envolver perigo voltamos à era em que
voltamos a ter crianças em casa”. E, por isso, na opinião desta psicóloga a
abordagem, perante a insistência da criança ou pré-adolescente, pode ser outra:
“fico mais intranquilo do que estava, mas se queres ir vamos porque se não
vamos agora não vamos a mais nenhum concerto, nem tínhamos ido a Fátima ver o
Papa”.
Patrícia Câmara
é igualmente da opinião que “reiterar o medo é dar força à parte maligna” e,
por isso, “escondermo-nos em bunkers não é solução”, até porque é preciso saber
lidar com a “imprevisibilidade da vida”, sendo certo que a última decisão
caberá sempre aos pais.
“Manter as
nossas rotinas é importante”, defende Inês Marques. E caso os pais sejam
questionados sobre a hipótese de vir a acontecer um atentado como o que teve
lugar em Manchester, devem ser “sinceros” e dizer que “pode acontecer, embora a
probabilidade de acontecer seja reduzida”.
Já a docente
da Universidade do Porto, Isabel Abreu-Lima, vestindo a pele dos pais diz que
“tentaria não tomar decisões já e abriria a porta para uma reflexão, tentando
que a decisão fosse partilhada com a criança”. “Adiar a decisão é o mais
sensato porque em cima do acontecimento será sempre não”, afirma, enfatizando
que “a decisão diz respeito aos pais” e que eles “têm de ser soberanos”.
O Psicólogo Vítor Cotovio explica os cuidados a ter
quando se aborda o tema com os mais novos.