No primeiro semestre de 2018, os
carteiristas roubaram 4,5 milhões de euros. Sabendo onde a lei é mais branda,
os "profissionais" saltaram do elétrico e do metro para tirar
carteiras a turistas na rua. De mapa na mão, são mestres a abrir mochilas.
Ela ajeita-lhe a camisola e
faz-lhe uma festa no rosto. Ele ajuda-a com a mochila que leva às costas e que
parecia estar mal colocada. De seguida seguem rua acima para a zona do Castelo
em Lisboa. Assim contado, parece ser um final de tarde normal de um jovem casal
estrangeiro, que se passeia de mapa na mão numa das zonas mais turísticas da
capital, parando de vez em quando para uma selfie.
Mas a realidade está longe do
quadro perfeito de um casal enamorado. A dupla é conhecida na zona: são
carteiristas e estão a tentar perceber se há "clientes" por perto. Reparam que estão a ser
observados. Os olhares dos moradores e de quem por ali trabalha, que os
conhecem bem, obrigam a mudar de planos. E desta vez alguém ficou com a
carteira intacta na mochila.
Um final feliz para um turista
mais distraído - pelo menos naquele momento, junto à Sé. Mas este não foi o fim
ideal da passagem por Lisboa para cerca dos cinco mil visitantes que nos
primeiros seis meses do ano ficaram sem a carteira numa qualquer rua da Baixa
lisboeta.
O furto de carteiras na rua ‒
os tradicionais em transportes públicos estão a desaparecer, pois a sua
penalização é mais forte ‒ passou a ser um dos maiores problemas de segurança
na capital. Por isso a PSP apostou em equipas à paisana, a "imitar"
visitantes pelas zonas mais turísticas, campanhas de alerta online e com
panfletos sobre a forma como os carteiristas atuam e até teve em agosto passado
um carro que circulou nas áreas mais visitadas pelos estrangeiros com um painel
onde em vários idiomas era feito o seguinte alerta: "Cuidado com os
carteiristas."
Mesmo assim, com base nos
dados apresentados na altura em que foram apresentadas queixas ‒ que são
menores do que os furtos pois há muita gente que não denuncia a situação ‒, a
polícia refere que no primeiro semestre de 2018 foram roubados na zona da Baixa
de Lisboa 4,5 milhões de euros por carteiristas. Um milhão de euros mais do que
no período homólogo de 2017, adiantou-nos o intendente Resende da Silva, comandante da Divisão de Investigação Criminal da
PSP.
FURTAR CARTEIRAS NA RUA NÃO DÁ PRISÃO
Mesmo com o reforço da
vigilância policial, a vida dos cerca de 200 carteiristas referenciados em
Lisboa - a grande maioria de Leste (romani, búlgaros, croatas), com idades
entre os 18 e os 30 anos, um terço deles mulheres - é muito rentável.
Muito turista a passear com
carteiras recheadas - a capital terá recebido cerca de três milhões de
visitantes estrangeiros nos primeiros seis meses do ano de 2018 ‒ acaba por ser
um chamariz. Um exemplo: "Já tive um
cliente que chegou aqui a dizer que lhe tinham roubado a carteira com três mil
euros dentro. Só lhe disse "como é que anda com esse dinheiro na
carteira?"." O episódio é contado por um dos comerciantes da zona
de Alfama, que acrescenta: "E nós
avisamos sobre a presença dos carteiristas e para levarem a carteira no bolso
da frente. Mas..."
Quando estivemos nessa semana
na zona do Castelo a movimentação de assaltantes estava mais direcionada para o
Rossio e os Restauradores, ao ponto de pelo menos três mulheres terem sido
detidas por um polícia fardado.
Tal como sempre acontece,
foram levadas para a esquadra, identificadas e, depois de presentes a juiz,
saíram em liberdade, pois o furto de carteiras na rua é considerado furto
simples, logo não pode ser punido com prisão preventiva. Se fosse no interior
de um transporte público, aí sim, seria um crime qualificado punível com pena
de prisão superior a cinco anos, dando a hipótese ao juiz de decretar a prisão
preventiva até ao julgamento.
Obviamente que a nuance da
legislação não escapa aos carteiristas que apesar de serem maioritariamente
estrangeiros ‒ "os portugueses estão a desaparecer, talvez exista ainda
uma meia dúzia e com alguma idade", adianta Resende da Silva ‒ estão bem
informados.
Apesar de a polícia garantir
que não há grupos organizados, existe quem forneça apoio logístico: "É claro que há indivíduos a lucrar com
isso, recebem pelo apoio que dão aos que chegam, mas não são estruturas
organizadas, apenas familiares."
"Há
carteiristas a trabalhar sempre com os mesmos advogados. Quando são detidos
pedem logo para os chamar e quando se vão embora passam os nomes aos que vêm
para cá", acrescenta o comandante da divisão de
investigação criminal que defende a necessidade de uma mudança legislativa para
que possa ser possível punir com prisão preventiva quem é detido a furtar
carteiras.
As queixas relacionadas com o
furto de carteiras têm estado a diminuir ‒ em 2017 foram efetuadas 8476 e, até
agosto de 2018, 5668, tendo sido detidas 179 pessoas ‒, mas os dados
estatísticos não batem certo com o aquilo a que os agentes da PSP assistem
diariamente.
"Temos
a perceção de que é um crime a aumentar. Nos últimos dois a três anos as
queixas subiram muito, mas também há muita gente que não apresenta queixa, pois
tem um tempo limitado para estar em Lisboa. Muitos só apresentam porque
precisam do comprovativo para poderem tratar dos documentos pessoais", frisou-nos
Resende da Silva.
DA BAIXA À MOURARIA COM MAPA E TUDO
"Aquele
ali está de volta. Já não o via cá há muito tempo. Isto quer dizer que os
antigos estão a voltar a Lisboa." Voltámos ao nosso passeio
pelas ruas de Lisboa com um profundo conhecedor das movimentações que existem
por Alfama. Deparamo-nos, pelos vistos, com um "velho conhecido".
O homem - que estava
acompanhado - também identificou a pessoa, e decidiu passar para o outro lado
da rua, olhando e seguindo com o companheiro que até tinha um mapa na mão, como
um verdadeiro turista.
O mapa é uma das ferramentas
essenciais para este "trabalho". Os carteiristas atuam em trio, com
uma tática simples - há sempre um terceiro que passa primeiro na zona e depois
diz aos companheiros se vale a pena ir para aquela área ou se há polícia por
perto.
Um fica uns metros atrás a ver
as movimentações na rua ‒ por exemplo se os moradores estão atentos ou se há
polícias conhecidos por perto ‒, enquanto o outro abre o mapa junto da mochila
que um turista incauto leva às costas. Com o mapa aberto esconde a mão e abre o
fecho retirando o que puder. Este esquema funciona melhor em ruas mais
apertadas e com muita gente, como algumas nos bairros históricos, nomeadamente
em Alfama, a caminho do Castelo. Um dos locais obrigatórios para quem sai dos
navios de cruzeiro que atracam no terminal em Santa Apolónia. E até junho do
ano passado passaram por Lisboa 166 barcos, com um total de 259 mil
passageiros.
Além da zona do Castelo, miradouro
de Santa Luzia e Portas do Sol,
os carteiristas têm como áreas de atuação Bairro
Alto, Cais do Sodré, Graça, Alfama, Mouraria. Estão
também referenciados nos Jerónimos,
na Torre de Belém e no Restelo. Sempre na rua, e em movimento,
e cada vez mais raramente nos elétricos
15 e 28, devido à tipificação do crime já referida.
ALERTAS AOS TURISTAS
A atuação da PSP ‒ que pouco
mais pode fazer do que deter os carteiristas, tirar-lhes fotografias para a
base de dados e ir referenciando o aparecimento de novos, enquanto os mais
conhecidos vão para outra zona turística da Europa ‒ tem nos bairros a
colaboração de alguns moradores e trabalhadores no comércio local. Há, até, uma
página de Facebook Pickpocket Lisbon onde são colocadas fotografias e alertas para as movimentações destas duplas.
No Castelo, por exemplo, há
quem vá a sair de casa de carro e buzine para avisar da sua presença, quem
esteja à porta de estabelecimentos comerciais e grite ou assobie quando vê que
se preparam para meter as mãos numa mochila ou numa mala de senhora, ou quem,
como fazem os condutores de tuk-tuk, alerte os turistas que vão transportar.
"Todos
os dias faço denúncias. Sei quem eles são, onde moram. Vejo todos os dias à
minha frente assaltos." Eduardo Vieira trabalha com
um tuk-tuk e conhece bem esta questão. Diz que este "ataque" já
existe "há uns quatro anos. Mas em
Paris é igual, Barcelona também".
Lidando diariamente com esta
questão, Eduardo sabe os pontos mais sensíveis para quem visita Alfama. "O Panteão, a subida para a Sé, ou da
Sé para as Portas do Sol, neste caso o passeio é muito estreito e as pessoas
têm de seguir mais juntas. É o paraíso", adianta.
Problemas com os carteiristas
não tem, recorda mesmo que só por uma vez houve problemas com condutores de
tuk-tuk. "Foi nas Portas do Sol, mas foi só dessa vez." "Nós
sabemos bem quem eles são, as roupas são sempre iguais. Chamamos a polícia, só
que eles largam as coisas ou então metem-se num táxi e fogem",
conclui.
Ou disfarçam, como nos contou
um outro comerciante. "Estava com
uma cliente aqui à porta e de repente ela percebeu que aquele [e aponta para um
homem que passa casualmente do outro lado da rua] lhe estava a mexer na mala.
Quando percebeu isso, ele só lhe disse: 'I'm joking, I'm joking.' E
fugiu."
Carteiristas em lisboa, um trabalho da SIC feito em 2015 mas que continua completamente atual.
CONSELHOS DA POLICIA DE SEGURANÇA
PÚBLICA
● Compre o seu título de
transporte com antecedência. Evite filas e ajuntamentos.
● Aguarde a chegada do seu
transporte, em especial no período noturno, em locais bem iluminados e com
visibilidade.
● Redobre a atenção à entrada e
saída dos veículos e carruagens.
● Preste especial atenção a
pessoas que provoquem encontrões, agitação, aglomeração ou contacto físico
desnecessário, tanto junto às portas como no corredor.
● Ao viajar, especialmente durante
a noite, procure paragens de autocarros / elétricos em zonas com boa
visibilidade.
● Não se distraia com abordagens
que o/a façam perder de vista os seus pertences.
● Mantenha os seus pertences
junto a si, nunca os coloque sobre os bancos. Transporte a mala ou saco junto
ao corpo, na parte da frente deste e segure com uma mão, se possível.
● Num veículo com poucos
passageiros, procure sentar-se perto do condutor (no caso dos autocarros e
elétricos). Se alguém o (a) queixe-se a este.
● Cuidado com os carteiristas.
Guarde a sua carteira num local seguro, junto ao corpo, que seja difícil de
aceder.
● Não traga na carteira ou na mala
quantias elevadas, coisas valiosas ou de grande interesse para si.
● Evite ostentar adornos ou joias
de valor, mesmo que na realidade o não sejam ‒ ao longe, atraem o assaltante.
● Ande com as suas chaves fora da
carteira, num bolso interior do vestuário.
● Evite adormecer, a ocasião faz
o ladrão.
●Se for vítima de assalto não
reaja. Capte o máximo de características possíveis dos assaltantes e ligue para
o 112 ou dirija-se á esquadra mais próxima.
● Se for vitima de furto ou de
roubo não deixe de apresentar queixa formal na PSP.
● Se considerar necessária a
intervenção das Autoridades Policiais não hesite em pedir a ajuda de qualquer
colaborador da CARRIS ou do METROPOLITANO DE LISBOA.
Maximize a
sua segurança, minimizando a exposição ao perigo.
A
PREVENÇÃO É A SUA MELHOR PROTEÇÃO!
NÚCLEO DE DEFESA PESSOAL DE LISBOA
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