15 de outubro de 2016

MUDA DE CURSO: VIOLÊNCIA NO NAMORO NÃO É PARA TI!


O Governo lançou uma campanha para abanar universitários: “Violência no namoro não é para ti”. Até ao final do ano lectivo, esta campanha feita em parceria com as federações académicas quer ajudar os jovens a definir barreiras e percepcionar actos de violência no namoro. Nas universidades portuguesas este é um problema “muito grave”, diz a APAV.



É uma espécie de segredo público nas academias nacionais. Toda a gente sabe que existe, mas ninguém fala sobre isso. Daniel Freitas, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), entende bem a distância entre a “percepção baixíssima” da violência no namoro nos universitários e a realidade: “Não conheço casos, não nos são denunciados, mas todos os dados nos dizem que o problema existe.” E é “muito grave”, completa Daniel Cotrim, assessor técnico da direcção da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). “Os estudos indicam que a violência no namoro no meio universitário tem índices altíssimos e denúncias muito baixas. O número de jovens violadas também é muito alto e esses casos também não são denunciados.”



Um estudo da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) divulgado no início deste ano fez soar alarmes na equipa da secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Catarina Marcelino. Entre os 2500 jovens (entre os 12 e os 18 anos) inquiridos, quase um quarto (22%) considerava “normal” a violência no namoro. Por outro lado, em 2015 chegaram ao Instituto de Medicina Legal 699 casos de violência no namoro (em todas as idades), um aumento de 44% relativamente ao ano anterior — e isso, sabe-se, é apenas uma parte do problema. Muitas das vítimas nunca chegam a fazer queixa.

Os dados “são impressionantes”, diz Catarina Marcelino, “mas não surpreendentes”. A dimensão da violência doméstica e de género em Portugal é ela própria uma prova dos factos. Os agressores têm uma idade média de 40 anos — mas não foi aos 40 anos que se tornaram agressores. Algo falhou. Continua a falhar. “São pessoas que nasceram e cresceram em democracia, andaram na escola no sistema democrático. Faz-nos pensar se, enquanto sociedade, estamos a fazer o suficiente. Não estamos.”

O perfil de vítimas e agressores é difícil de traçar. Sabe-se que, entre os mais jovens, a violência “é muito transversal”, aponta Daniel Cotrim, chamando a atenção para o facto de essa realidade também se começar a notar nos números gerais. As raparigas ainda são mais vítimas do que agressoras, mas a balança está cada vez mais equilibrada, atingindo os rapazes “quase na mesma proporção”.

A par da campanha dirigida aos universitários, está a ser delineada uma “estratégia nacional de educação para a cidadania”, em parceria com o Ministério da Educação. A ideia é dar mais competências às escolas logo a partir do 1º ciclo e até ao ensino secundário. Actuar cada vez mais cedo — porque os relatos de violência chegam também cada vez mais cedo.

É uma mudança urgente. Para o psicólogo Daniel Cotrim, a intervenção devia começar “quando as crianças entram no jardim-de-infância, por volta dos três anos”. Acontece assim em países como a Austrália e Canadá, com resultados inspiradores. “Parte do currículo relacionado com a cidadania é feito com as famílias e complementado pelas escolas. Isto cria sociedades activas”. Na prática, é olhar para a campanha feita em Portugal com a reciclagem e readaptar a fórmula. “Hoje toda a gente recicla porque os filhos ensinaram os pais. Se fomos capazes disso nesse campo, também somos na violência.”


A APAV dá apoio gratuito e confidencial a vítimas de violência. Podes denunciar ou pedir ajuda através do número grátis 707 200 077, enviar um e-mail para apav.sede@apav.pt ou dirigires-te a um dos gabinetes de apoio à vítima da associação.







Fontes: publico, apav, umar.

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