30 de junho de 2014

Corta com a Violência: Quem não te respeita não te merece


A campanha 'Corta com a violência. Quem não te respeita não te merece.' tem como objetivo sensibilizar os mais jovens para determinadas formas de violência que podem ter lugar na escola, como o bullying, a violência no namoro e a violência sexual, chamando sobretudo a atenção para formas de violência mais subtis e, muitas vezes, menos valorizadas, tais como o gozo, a humilhação, a intimidação, os comentários de natureza sexual e as atitudes controladoras nas relações de namoro. Com esta campanha pretendemos promover nos jovens uma atitude: a de quem não me respeita, não me merece! (APAV)




26 de junho de 2014

PROTEJA O SEU FILHO DO CRIME



Ensine o seu filho a defender-se e poderá reduzir significativamente o risco de ele se tornar vítima de criminosos.


 – André era ainda palmo e meio de gente, seis anos feitos há poucos meses. Aquele dia ensolarado estava perfeito para um jogo de futebol com os amigos no extenso relvado em frente da fonte luminosa, no centro de Lisboa. Mas uns delinquentes estavam decididos a estragar-lhes a brincadeira. Aproximaram-se deles e, por entre alguns palavrões e ameaças, roubaram-lhes a bola, revistaram-lhes as roupas e exigiram-lhes uns trocos. Depois foram-se embora.

 Esta foi a primeira vez que o André foi vítima de um assalto, mas não seria a última. Ainda se lembra bem de quando, uns anos depois, estava a passear à noite com uns amigos e uns matulões chegaram-se ao pé deles com um ar ameaçador: “Passem p’ra cá o dinheiro!” Ao que o André respondeu: “Não temos nada.” Eles não acreditaram. Alguns safanões – “Deixa cá ver os bolsos!” –, e as moedas caíram no chão. Irritados, os agressores distribuíram murros e pontapés…

– Quando a Marta regressou a Lisboa depois de umas férias em casa dos avós, no Alentejo, guardava consigo um segredo que nenhuma criança de sete anos deveria suportar. Insegura e angustiada, à noite as lágrimas caíam-lhe mudas, e pedia a cama dos pais para dormir. Na escola, a professora encontrava-a frequentemente a chorar sozinha.

 Os pais pensavam que a Marta talvez tivesse visto algo na televisão que a tivesse impressionado, mas quando a menina começou a entrar em pânico sempre que era deixada em casa dos avós, a mãe julgou chegar a hora de pedir ajuda.

 Do SOS Criança a resposta foi clara: alguma coisa tinha acontecido, pelos que os pais deviam tentar que ela falasse. Num dia em que estavam as duas sozinhas em casa, a Marta desabafou: “Mãe tenho uma coisa para contar”, disse, soluçando. “Mãe  o senhor M., vizinho dos avós, leva-me para casa dele e obriga-me a fazer-lhe coisas.”

 As histórias de pequenos roubos, furtos e extorsões, em que se pode ficar sem a bola de futebol, o relógio, o telemóvel ou o dinheiro para o lanche na escola, são comuns entre os nossos jovens. Chega a ser estranho morar em Lisboa ou Porto (concelhos onde se regista a maior taxa de criminalidade) e atingir os 14, 15 anos sem nunca ter sido vítima de um assalto.

 O abuso sexual de menores é de facto um outro cenário dramático em Portugal. Na maioria das vezes, o agressor é um familiar da vítima ou alguém próximo da família, um vizinho ou um conhecido. Infelizmente, na maior parte das vezes, as situações de abuso sexual são ocultadas ou as queixas não chegam à fase de julgamento por falta de provas. As participações mostram ser apenas a ponta do icebergue como têm demonstrado os meios de comunicação social com particular destaque para o caso “Casa Pia”.

 Uma coisa é certa: uma criança esclarecida tem muito mais hipóteses de se manter em segurança. Segundo os psicólogos, se as crianças souberem detetar, reconhecer e defender-se dos perigos que as rodeiam, mais facilmente os evitarão. É possível ensiná-las a dizer não, melhor. Elas devem também saber que, embora aja pessoas amigas e de confiança, existem outras que são perturbadas e podem fazer-lhes mal.

 Como diz um conhecido psicólogo a “Prevenção criminal deve começar no processo educacional e de socialização das crianças (prevenção primária). Elas devem conhecer o problema da toxicodependência – através de um discurso orientado pedagogicamente para a necessidade de fazer escolhas e opções conscientes – e saber que existem miúdos pouco mais velhos que elas que, por esse facto, vivem uma vida marginal e para os quais valores como a felicidade, o bem-estar, a realização e o sucesso deixam simplesmente de fazer qualquer sentido”. (J.B.)

Mas como pôr o seu filho de alerta sem que ele fique amedrontado e inseguro? Poderá começar a ensiná-lo desde os três ou quatro anos, adoptando uma linguagem apropriada à idade e exemplificando através de jogos ou com a ajuda de bonecos como deverá agir em caso de perigo.


Eis alguns conselhos que podem ajudar o seu filho a sentir-se mais confiante e a evitar situações de perigo:

Ensine-lhe as Regras Básicas. Há certas coisas que uma criança deve aprender o mais cedo possível:
– Nome completo, morada e telefone;
– O primeiro e último nome dos pais e os respetivos números de telefone do trabalho;
– Como marcar o 112 numa emergência. (Desligue o telefone e deixe o seu filho praticar.)
– Considerar os polícias que patrulham as ruas do seu bairro e a entrada da escola como pessoas boas, de confiança, que existem para ajudar e proteger em qualquer circunstância.

Explique-lhe Onde Procurar Ajuda. A esquadra da polícia ou locais movimentados, tais como lojas e restaurantes, são os mais indicados. Faça o percurso até à escola com o seu filho e indique-lhe exatamente quais os locais seguros e aqueles que deve evitar.
 Diga-lhe também quais são os vizinhos de confiança a quem ele poderá recorrer em caso de aflição. Visite-os e peça-lhes para alertarem a Polícia se observarem qualquer situação anormal. Saberão assim que você conta com a ajuda deles para proteger o seu filho, e este não se sentirá inibido se tiver de pedir-lhes ajuda.

Ensine-o a Defender-se. É essencial que o seu filho perceba que tem o direito de protestar se alguém o importuna. Se um estranho o aborda, poderá gritar “Este não é o meu pai/mãe!”, de forma a chamar a atenção. Se ele tentar agarrá-lo, gritar e espernear não é o suficiente, pois pode facilmente ser confundido com uma típica birra infantil. Diga ao seu filho que poderá mordê-lo ou enfiar-lhe os dedos nos olhos para que ele o largue. É preciso repetir à criança que, por vezes, as pessoas maldosas têm um ar simpático e que é preciso desconfiar sempre das pessoas desconhecidas, mesmo que elas a chamem pelo nome. Recomende-lhe que não fale com estranhos e muito menos que aceite presentes deles.

Uma boa ideia é levar o seu filho a experimentar uma aula de autodefesa para crianças. O Núcleo de Defesa Pessoal de Lisboa tem o programa Dynamic Anti-Bullying, pode-se experimentar uma aula e inscreve-lo no programa se ele gostar.



Dê exemplos de possíveis situações e de como proceder: se um desconhecido lhe pedir que o ajude a procurar o cão que fugiu, o seu filho deverá responder-lhe que não faz sentido um adulto pedir ajuda a uma criança e que vá pedi-la à Polícia.

 Pode também acontecer que o agressor se faça passar por uma autoridade e tente convencê-lo de que os pais tiveram um desastre. Frise bem que ele tem todo o direito de se recusar a ir onde quer que seja com quem quer que seja.

 É preciso também que o seu filho saiba quem é que está autorizado a ir buscá-lo à escola, como no caso de quem habitualmente o faz não possa ou até mesmo numa emergência. Insista com ele para que não saia com mais ninguém.

 A criança também deve saber que tem o direito de recusar qualquer contacto físico que a incomode. Se ela não gosta de dar um beijo a alguém, não a obrigue. Um aperto de mão também serve para cumprimentar as pessoas.

 No entanto, em caso de assalto, o seu filho deverá colaborar entregando de imediato dinheiro ou outro objeto que o assaltante exija. Nestas circunstâncias é perigoso opor resistência porque o criminoso pode estar armado. É sempre aconselhável seguir a via menos violenta e não colocar a sua integridade física em risco.

Segurança na Rua. Sempre que possível as crianças devem andar acompanhadas, se não pelos pais, por alguém mais velho ou por um grupo de amigos.

 Ensine o seu filho a brincar com um amigo ou em grupo, aconselhe-o a evitar áreas escuras e isoladas, tais como descampados, ruas pouco iluminadas ou prédios vazios, e que tenha muito cuidado com as brincadeiras noturnas na rua.

 Alerte-o para caminhar com confiança e estar atento ao que o rodeia. Os criminosos são peritos em descobrir vítimas fáceis, crianças que pareçam perdidas, confusas, tristes ou perturbadas.

 Se um carro o segue enquanto caminha na rua, o seu filho deverá dar meia volta e caminhar na direção contrária. Não é provável que o condutor faça o mesmo, atraindo assim as atenções. Diga-lhe também para se manter afastados pelo menos 5 m de um veículo que pare para pedir informações (mostre-lhe a que corresponde essa distância). Faça-o perceber que é uma boa opção dizer “Não sei” e continuar caminho. Em caso algum – mesmo que a pessoa­­ ­­diga que vem da parte dos pais – deverá a criança aceitar uma boleia de uma pessoa que não conhece.

 Ao usar os transportes públicos, certos cuidados devem ser tidos em conta. Apesar de os carteiristas não representarem um perigo potencial para as crianças, pois sabem que não andam com muito dinheiro, é bastante útil seguir algumas regras básicas: andar com pouco dinheiro e distribui-lo por vários bolsos, pôr a carteira num bolso junto à pele, ficar o mais perto possível do condutor ou de outros passageiros conhecidos e saber perfeitamente o percurso que realiza e o e o local da sua paragem. Deverão transportar o menor número possível de malas ou sacos e também evitar dormir, ler ou ouvir música, isto poderá distrai-las do percurso e do que se passa ao seu redor.

 E, naturalmente não deverão andar com objetos de valor, como fios de prata ou ouro e relógios de marca, à mostra. Também é preciso ter um especial cuidado se o seu filho transporta um telemóvel, deve ser discreto. É enorme a quantidade de crianças e adolescentes que são assaltados para lhes roubarem o telemóvel.

Segurança na Escola. Uma grande parte da violência contra crianças e jovens ocorre na escola ou nas suas imediações. Por outro lado, a agressão muitas das vezes surge da parte de outros alunos. Um inquérito efetuado por professores da Universidade do Minho a 6197 alunos de estabelecimentos de ensino do 1º e 2º ciclos do distrito de Braga, revelou que pelo menos 21% das crianças consideram ter sido vítimas dos seus colegas durante o último período letivo, pelo menos três vezes

 Mesmo que a escola do seu filho pareça segura, mantenha-se atento. Comece por aderir à associação de pais e participe nas reuniões. Mantenha um contacto regular com a diretora de turma. Fale também com outros pais, de forma a saber como convivem outras crianças com a escola.

 É muito importante que esteja atento aos comentários do seu filho e converse com ele. Se ele lhe disser que tem medo de certos colegas ou receia ir à escola, saiba se tem sido vítima de violência por parte de outros alunos. Esteja também atento à possibilidade de o problema ser um professor ou um funcionário – e não ponha de parte a hipótese de abuso sexual. Contudo, ouça sempre os dois lados da história antes de exigir que se tomem medidas.

 Ensine-o a não resistir se se sentir ameaçado. O melhor é tentar fugir, mas, se não o conseguir, mais vale ceder do que perder a saúde ou a vida. Se ele tiver sido roubado, fale com o conselho diretivo e exija que façam uma participação à Polícia.

 Se o seu filho realmente não se sentir seguro, considere a hipótese de o mudar de escola. Se não for possível, aconselhe-o a evitar alunos que consumam drogas, se envolvam em brigas com frequência ou tenham atitudes de prepotência.

Segurança na Vizinhança. É obrigação dos pais saberem, em qualquer altura, onde se encontra o filho, mesmo que ele só tenha ido a casa dos avós, do outro lado da rua. Conheça os amigos dele, bem como os seus números de telefone, os nomes dos pais e onde vivem.

 Um telemóvel seria uma forma de poder contactar o seu filho a qualquer altura, mas, isso pode contribuir para torná-lo num alvo apetecível para os larápios. Um bip ou telemóvel simples pode ser uma melhor opção, o seu filho lerá as mensagens que lhe enviar.

 Finalmente, ensine algumas regras básicas de segurança em casa, como, por exemplo, trancar as portas. Se estiver sozinho, nunca o deverá revelar ao telefone. A resposta correta será dizer que os pais não podem atender de momento, mas que ligarão mais tarde. (Exercite este tipo de conversas com o seu filho de forma a que ele saiba como responder).

 E quando chegar a idade do emprego em part-time, conheça a morada e o telefone do local. Se o trabalho consiste em tomar conta de um bebé, tente conhecer os pais primeiro. Marque horas ao seu adolescente para chegar a casa.

Lembre-se de que a segurança dos filhos nas ruas depende muito dos pais e daquilo que aprendem com estes em casa. A prevenção é interiorizada por rotinas, compete à família ensiná-las aos filhos.

 Se o seu filho for vítima de algum tipo de violência, procure ajuda imediatamente. Além das forças policiais, existem instituições que poderão ajudá-lo. Mesmo que uma criança seja vítima de uma ofensa aparentemente insignificante, leve-a a sério e ouça-a com atenção. Acima de tudo, não a culpe pelo que possa ter acontecido. Ninguém merece ser vítima duas vezes – muito menos uma criança.


 CONTACTOS ÚTEIS

SOS - Criança  –  O Instituto de Apoio à Criança pretende dar resposta a todas as situações relacionadas com crianças e jovens, dispondo de recursos humanos qualificados nos campos da psicologia, educação e assistência social. Das 09:30h às 18:30h    Tel. 217 931 617 

Criança Maltratada  –  Projecto de Apoio à Família e à Criança – Dias úteis das 10h às 20h   –   Tel.: 213 433 333

Recados da Criança  –  Informação e Encaminhamento – Dias úteis das 09:30h às 17:30h   –   Tel.: 800 20 66 56 (Chamada Gratuita)

APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima  –  Dias úteis das 10h às 13h e das 14h às 17:30h   –   Tel.: 707 200 077