Qual é a linha ténue que separa um psicopata de sucesso, como um político,
de um que perde o controlo e mata pessoas? Vários estudos ao longo dos anos
tentaram traçar essa diferença.
Nem todo os psicopatas são criminosos ou
potenciais "serial killers". Na realidade, algumas das suas características,
como por exemplo ter coragem para enfrentar riscos e serem carismáticos, são as
mesmas que qualquer pessoa num papel de liderança precisa.
A psicopatia não é facilmente definida,
mas a maioria dos psicólogos vê esta condição como um transtorno de
personalidade caracterizada pela habilidade de encantar superficialmente
os outros, aliado a uma profunda desonestidade, falta de culpa e ainda um pouco
de controlo impulsivo.
De acordo com as estimativas, 1%
da população é psicopata, sendo que a maioria pertence ao sexo masculino.
O número, porém, não parece representar
a quantidade total de pessoas com algum nível de psicopatia, já que não é
necessário apresentar todos os sintomas do transtorno para se ser considerado
um psicopata.
O que parece atrapalhar os trabalhos
sobre o assunto é que os investigadores geralmente procuram os psicopatas no
local mais fácil de os encontrar: a prisão.
Até há pouco tempo acreditava-se que
todos eram criminosos. O desafio dos investigadores é, então, encontrar
psicopatas que levam uma vida normal, sem entrar em conflito com a lei.
Charmoso, agressivo
e egoísta
Em 1977, Catherine Widom publicou
um estudo sobre "psicopatas não institucionalizados". Para encontrar esses
indivíduos, a investigadora colocou um anúncio em jornais da cidade de Boston,
nos Estados Unidos.
O anúncio tentava atrair pessoas
"charmosas, agressivas, sem preocupações e que são impulsivamente
irresponsáveis" mas também "que são boas a lidar com pessoas, além de tentar
alcançar os seus próprios interesses".
As pessoas que recrutou exibiam o perfil
de personalidade semelhante ao de psicopatas que já tinham estado presos.
Aliás, dois terços das pessoas que responderam ao anúncio já tinham de facto
estado numa cela.
Então o que manteve um terço destas
pessoas longe das prisões?
Uma pesquisa de Adrian Raine,
da Universidade da Pensilvânia, conduzida na década de 90, ajuda a responder a
essa questão.
O investigador identificou 13 psicopatas
que tinham cometido crimes e 26 que tinham o perfil deste transtorno
psicológico mas que conseguiram fugir à cadeia – os chamados "psicopatas
de sucesso".
Na experiência, cada homem deveria ser
gravado em vídeo a falar sobre os seus defeitos. Raine percebeu que os
considerados "psicopatas de sucesso" tinham um ritmo cardíaco acelerado,
sugerindo ansiedade social.
Ou seja, apesar dessa ansiedade, os
homens mostraram também que conseguiam controlar os seus impulsos nas actividades propostas pelo estudo.
A conclusão foi que quem tem maior
ansiedade social mas, ao mesmo tempo, controlo sobre os seus impulsos consegue
mais facilmente manter-se longe dos problemas com a lei.
O psicopata
de sucesso
Mais recentemente, alguns estudos
mostraram que pessoas com maiores traços psicopatas tendem a ser encontrados
com mais frequência em actividades como a política, negócios, segurança
pública, combate de incêndios, operações especiais militares e desportos de
risco.
A maioria destes psicopatas não exibem
sintomas clássicos, mas não deixam de apresentar esse mesmo transtorno.
É provável que a audácia, carisma,
coragem e resiliência permita que essas pessoas tenham resultados muito
melhores do que o resto da população.
O psicólogo Robert Hare,
especialista canadiano de psicopatia, brinca que o segundo melhor lugar para se
encontrar psicopatas, a seguir às prisões, é na bolsa de valores.